PARALISIA CEREBRAL, UM TABU A SER QUEBRADO

sábado, 30 de outubro de 2010

NOTICIA - '@MarceloTas, candidato em 2038: os políticos falam mas não ouvem'

Dilma e Serra não são Obama. Não usaram a Internet nem as redes sociais porque continuam "surdos". Conselhos de um internauta-âncora com milhões de seguidores.

Ele está a dar esta entrevista por Skype de São Paulo. A cabeça (careca) dele vale milhões. Concretamente, um milhão de seguidores no Twitter, uns dois milhões na televisão, mais 50 mil visitas diárias no blogdotas.terra.com.br, que ganhou prémios nacionais e internacionais. Fez um livro com frases de Lula chamado Nunca Antes na História Deste País, uma frase favorita do Presidente.

O nome dele é Marcelo Tas. Vai ser candidato em 2038. Estará então com 79 anos, mas na actual eleição o mais bem humorado foi o octogenário Plínio de Arruda Sampaio, portanto tudo é possível.

A questão de Marcelo é criar debate. Ele acha que, em pleno boom de acesso à Internet, Dilma Rousseff e José Serra continuam em cima de um camião, como nas campanhas antigas.

"Nasci numa pequena cidade do interior e lembro-me do camião na praça, acendiam-se as luzes, os candidatos gritavam no microfone e a gente ficava lá em baixo, aplaudindo, no máximo xingando. O povo era um auditório, como na TV. E o DNA dos políticos continua a ser esse, incluindo o do Presidente Lula, que tem enorme habilidade a discursar, mas é incapaz de fazer entrevista de um para um, em que tem de responder mesmo à pergunta."

Foi essa "natureza surda" que Tas viu mais uma vez em acção nesta campanha. Ao contrário, por exemplo, de Obama, os políticos não usaram redes como o Twitter, não criaram uma abertura para ouvir as pessoas. "Eles falam muito mas não querem ouvir ninguém."

E, entretanto, há outro país. "Blogues, Twitter, Facebook, Orkute. É muita gente. O Brasil hoje tem 68 milhões de internautas. É mais de metade dos eleitores. E em todas as classes sociais. O brasileiro é muito activo e criativo, usa a extensão do vizinho ou lan house [cibercafé]."

Nesse mundo paralelo ao da campanha tradicional, Marcelo Tas detecta "dois climas". O primeiro é o dos militantes profissionais: "Cada candidato tem um exército na Web que faz muito barulho mas representa uma parcela pequena do debate. Porque na Internet as pessoas percebem rapidamente quando você está fazendo algo por interesse financeiro ou ideológico. O perfil dessa comunidade que busca informação é muito crítico. Você não os engana facilmente, como na televisão." Marcelo conhece bem a televisão. Actualmente, é âncora do CQC, magazine de sátira, topo de audiência da TV Bandeirantes, segundas à noite.

"O internauta não tem uma mente bipolar, como esses militantes que dizem que quem não vota Dilma é neoliberal de direita e quem não vota Serra é guerrilheiro de esquerda." A actual polarização reflecte-se na Net, é o outro clima que está a acontecer, além dos militantes profissionais, mas Marcelo acha que não é "uma beligerância séria", realmente. "As brigas dos brasileiros não são de sair sangue. O brasileiro esperneia e acaba indo tomar uma cerveja. A bolinha de papel [que acertou na cabeça de Serra] é emblema disso. A gente não tem uma natureza de partir para a agressão grave."

Controlo, não
O que Marcelo vê, e não gosta, "é uma patrulha" na Web. "Qualquer coisa que eu diga, essa patrulha acha que é contra Dilma ou contra o Serra. É infantil. O clima eleitoral devia ser mais livre. Quando entra em política, há gente que quer censurar, político que quer entrar na justiça."

Favorecendo o anonimato irresponsável, "a Internet dá coragem para os cobardes e isso é grave", reconhece Marcelo. Mas controlo não é a solução. "A maneira de combater isso é com liberdade. Deixar a manifestação existir e ser criticada. Jamais legislar, até porque é impossível. Não acredito em controle como forma de discernimento. O que tem de fazer é tentar entender em conjunto."

Foi por isso que ele se apresentou como candidato em 2038.

"O Brasil vem melhorando a cada eleição, mas muito lentamente. Eu fico muito insatisfeito. Estou aqui, sexta-feira, e não me sinto tão entusiasmado para votar no domingo. O debate foi muito raquítico: o aborto, o cabelo da Dilma, a feiura do Serra, e não se falou do essencial. Estamos a preparar-nos para sermos o quê quando crescermos? Tenho viajado muito pelo país. Vejo muita prosperidade, muito automóvel. Mas os automóveis não têm para onde ir. As estradas não funcionam bem, nem as cidades, ou os aeroportos. Basicamente, não acredito em aceleração do crescimento, que é o mantra do Lula e da Dilma. Não existe crescimento acelerado que tenha qualidade. Essa é a minha plataforma de Governo. Enquanto a gente não souber se educar, não vai dar."

Então, isso de ser candidato, é a sério? "É e não é. Ontem, na Avenida Paulista, tinha gente gritando: "Tas, meu voto é seu!" Eu gostaria que as pessoas pelo menos pensassem em 2038. Jornais e revistas são muito 8 ou 80. Só têm um tipo de pensamento. Eu gosto da contradição."

Entre Dilma e Serra, "as diferenças são muito pequenas". Marcelo não anunciou aos seus milhões de seguidores em quem vai votar, portanto também não lhe vamos perguntar.

Mas ele tem uma pergunta para a despedida: o que é feito de Miguel Esteves Cardoso? "Leio ele desde "A Causa das Coisas". Tenho o maior carinho pelo MEC."

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