PARALISIA CEREBRAL, UM TABU A SER QUEBRADO

domingo, 29 de novembro de 2009

NOTICIA - 'Jornalismo com humor'

Repórter, ator, escritor, roteirista. Com um currículo vasto, Marcelo Tas ganhou notoriedade desde os anos 1980, quando era o repórter fictício Ernesto Varela, e a mantém hoje, à frente do programa "CQC", na Band. Em entrevista ao Magazine, ele conta sobre seu mais recente livro - lançado esta semana na capital mineira -, criado a partir de frases do presidente Lula, jornalismo, humor e o momento atual da TV brasileira.



Como surgiu a iniciativa em criar uma obra a partir de frases do presidente Lula?
Partiu da editora Panda, que me jogou na mão uma pesquisa que eles já haviam feito e perguntaram se isso dava um livro. Dormi com essa ideia algumas semanas e não quis produzir um livro simplesmente de frases estapafúrdias do presidente, não me agradava fazer isso com as bobagens que o Lula fala. Achava isso uma coisa muito óbvia. Aí, acabou me dando um clique que o presidente, ao longo de todos estes anos no poder, mudou radicalmente aquela postura que tinha, de um homem que nunca teve diploma, por um cara que é PhD em tudo. Fala de perfuração de águas profundas, desmatamento, Corinthians, ele sabe tudo de tudo. E foi aí que me deu esse clique de dividir um livro em capítulos, com cada um deles sendo uma profissão assumida pelo Lula: o filósofo, advogado, técnico de futebol, comediante de stand up, e por aí vai.

Dentre as tantas frases do presidente que o livro aborda, alguma preferência pessoal?
Tem uma que é imbatível. "Minha mãe era uma mulher que nasceu analfabeta". Essa é difícil de superar. Como é que pode né... Todos nós tivemos uma mãe que nasceu não só analfabeta, mas pelada, desdentada, e tudo. A mãe do presidente tem mesmo que ser mais analfabeta que a nossa (risos).

Como você enxerga o personagem Lula, sua postura e opiniões, a ponto de se criar uma obra?
Aí entra a virtude do Lula. Ele é um grande comunicador, como poucos. É um bicho muito raro. Um político com carisma, que é uma coisa quase em extinção. Já tivemos Jânio Quadros, Getúlio, presidentes, principalmente, com uma grande aura de carisma, o que não acontecia com Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco. Então, temos que reconhecer que é um puta de um comunicador. E ele tem outra característica explosiva que é transformar qualquer assunto complexo em arroz com feijão, mesmo que ele erre tudo. Aliás, quando ele erra tudo, às vezes é aí que prestamos atenção. Então, ele não tem medo de errar. É meio Dadá Maravilha, aquele centroavante que é artilheiro e você não sabe como. Ele não tem medo de chutar uma bola na arquibancada e outra para fazer um gol de placa.

Desde a época do Varella, você criou um jeito próprio de fazer jornalismo. Há diferenças e quais seriam elas?
A diferença é que no Varella e no "CQC" também, a chave é jornalismo e humor. Igualmente privilegiados. Sempre procurei trabalhar o humor com a mesma seriedade que trabalho o jornalismo. Eu vejo, às vezes, muitos jornalistas que fazem coisas engraçadas, o que é diferente de fazer com humor. Ou coisas engraçadinhas, aquelas matérias que fecham jornal, com uma musiquinha e tal. O "CQC", por exemplo, é um programa que, para cada um daqueles animaizinhos que aparecem na frente da câmera, existem três jornalistas que produzem, pautam, investigam, checam os dados. Agora, temos sempre um humorista de ponta, profissional. Temos um elenco de grandes humoristas. Acredito que é aí que seja o diferencial. A gente trata o humor com muita seriedade. O humor, acredito, é talvez a forma mais eficiente de comunicação. Quando você trata de jornalismo com humor, você consegue ampliar sua base de telespectadores. Isso aconteceu com o "CQC". Temos crianças e adolescentes que nos escrevem dizendo que não tinham nenhum interesse no noticiário, principalmente o político, e agora passaram a ler jornais por causa do "CQC". É uma coisa interessante. Penso que há uma enorme janela de oportunidades para essa geração, que é muito crítica, muito ligada às redes sociais, para conversar com eles de outra maneira, principalmente sobre política e cidadania, que são assuntos às vezes tratados com muito conservadorismo.

A mistura entre um comunicador, você, com humoristas profissionais para fazer jornalismo foi algo intencional quando levou o "CQC" ao ar?
Totalmente intencional. É a chave do programa, o segredo. É a única característica que nos diferencia de um telejornal ou até mesmo de uma atração de humor. O nosso programa procura tratar com igual profissionalismo, cuidado, carinho, o humor e o jornalismo. Por isso que vivemos em uma zona bastante perigosa. Estamos sempre passando muito perto do abismo. E muitas vezes nós caímos nele, fazemos a curva muito próxima ao gargarejo. Porque essa é a graça do humor, você correr riscos. Coisa que o jornalismo não pode correr.

E para 2010? Vocês já estão bolando algo novo para a próxima temporada, como formato, novidades....
Já estamos estudando várias novidades, mas que não posso adiantar. Até mesmo porque a concorrência anda nos copiando muito. Mas o que posso dizer é que já estamos trabalhando com Copa do Mundo de uma maneira muito avançada. Temos duas equipes que já embarcaram para a África do Sul. Estamos enviando o Felipe Andreolli e o Rafael Cortez. E vamos, ainda neste ano, fazer um especial da Copa.

Falando em emissora, a Band permite total liberdade a você e ao programa? Já sofreram algum tipo de pressão para retirar material?
Vou contar um segredo. Não existe liberdade total em lugar nenhum, nem dentro da sua casa. Se você fizer muita bobagem, a sua namorada pode te dar um pé na bunda. Em qualquer veículo de comunicação, estamos sempre discutindo limites. O que acontece na Band é que a emissora teve a inteligência e sabedoria para entender o "CQC". Então, a Band sabe que o programa depende de uma liberdade mais ampla do que muitos outros tipos de programas da casa ou até mesmo dos telejornais da emissora.

Na sua carreira, você tem realizado muitas palestras a universitários. Esse contato com os jovens te agrada?
Não só me agrada, como diria que é fundamental para mim. São palestras mesmo, onde me preparo, estudo, são assuntos que venho pesquisando há pelo menos 20 anos. Coisas que estudei no meu curso de pós-graduação em novas mídias que fiz nos Estados Unidos em 1988. Ou seja, tem mais de duas décadas que estou metido nesses assuntos.

E sobre a TV brasileira?
Como você enxerga o momento atual, com a repetição de fórmulas e a falta de criatividade?
Para mim, a única coisa é que a ousadia da TV brasileira não está à altura da ousadia do telespectador brasileiro. Essa é a grande questão. Nós somos uma prova viva disso que estou falando, porque é um projeto muito ousado, que tem um relativo sucesso.
O último projeto ousado era de cinco anos que foi o "Pânico", também muito ousado. E antes do "Pânico", tem o "Casseta & Planeta", que você pode colocar mais uns dez anos. Quer dizer, eu não entendo por que a TV brasileira não percebe uma coisa tão óbvia: o público brasileiro tem interesse em irreverência. E não penso que não sabe explorar, mas, sim, falta ter a coragem. Você precisa ter coragem porque vai correr um risco. Você não vai simplesmente fazer uma novela mexicana e ter um sucesso relativo, coisa que muita emissora faz.

Fonte: O Tempo

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