O apresentador e jornalista Marcelo Tas lançou, na noite desta quinta-feira, 4, Nunca antes na história deste país. O lançamento foi realizado na Saraiva do Shopping Higienópolis, em São Paulo, e foi acompanhada por uma sessão de autógrafos.
A obra reúne diversas frases do presidente Lula, comentadas pelo apresentador do CQC (Custe o Que Custar), da TV Bandeirantes.
O jornalista falou à Terra Magazine sobre o comportamento do presidente:
- Resolvi criar essa tese: o Lula não tinha diploma antes de ser presidente, mas com a faixa presidencial ele ganhou todos os diplomas do mundo, ele sabe falar sobre qualquer assunto
E especula sobre os sentimentos de Lula, "ele deve ter dias de angústia também". "Tem dia que ele acorda e diz: "Meu Deus, que merda eu fui fazer? Eu, que fui aquele cara do PT que defendia os trabalhadores e os oprimidos, agora estou aqui com o Collor", imagina Tas.
Leia a entrevista:
Terra Magazine - Como foi a sessão de autógrafos?
Marcelo Tas - Foi um massacre, foram cinco horas das sete e meia até a meia noite e meia e eu estava como uma noiva que não sabia o que iria acontecer na noite de núpcias. Foi a minha primeira vez. Não só escrevendo um livro, mas dando autógrafo.
E eu fiquei muito feliz, muito surpreso, me senti assim um Chico Xavier, recebendo uma fila de pessoas pra dar um passe, sabe, assim um pai de santo? Um por um chegava pedia um conselho pedia um passe, pedia uma palavra?
As pessoas querem ter um momento exclusivo com você e que daquele encontro surja alguma faísca, é muito engraçado. Eu não sabia que era assim, mas saí vivo e é engraçado, pode parecer um clichê, mas eu me senti renovado com esse contato direto com gente que as vezes vai no programa mas que não dá tempo de conversar.
E como foi a sua primeira experiência como escritor?
Eu te confesso que foi um pouco traumática porque eu não pensava que daria tanto trabalho. Mas dá trabalho justamente porque é apaixonante. Tem uma hora que o livro pega você e você passa a dormir menos, a ficar acordando no meio da noite e ter medo de esquecer uma idéia que você teve ali na cama e aí você levanta... Aí acabou sua vida, acabou sua saúde.
Mas é apaixonante, é por isso que é tão difícil. Eu já li tantas entrevistas de escreitor e agora eu pude comprovar na pele que o único jeito de você realmente viver as coisas é ver exatamente como elas são.
E por que começar logo com o presidente Lula?
Foi um convite da Panda Books, a editora do livro, o Marcelo Buarque me procurou com uma pasta cheia de frases do Lula, em dezembro do ano passado e me perguntou se aquilo daria um livro. E foi assim: dormi com aquele negocio, achei que simplesmente listar frases seria muito pouco, e ai comecei a inventar moda e foi aí que a coisa comeceu a crescer mais que a gente imaginou, mais do que a gente esperava.
Mas que "moda" é essa que você inventou?
Eu inventei uns personagens, resolvi criar essa tese: o Lula não tinha diploma antes de ser presidente, mas com a faixa presidencial ele ganhou todos os diplomas do mundo, ele sabe falar sobre qualquer assunto. Cada capítulo é uma profissão nova pra ele: advogado, economista, técnico de futebol. E cada um deles eu convidei um ilustrador que desenhou esse personagem, então o livro cresceu muito na parte visual. Em cada capítulo eu faço uma introdução grande, onde apresento o personagem e seus motivos.
Mas esse foco no Lula, você não teme que vai ficar uma coisa meio anti-lula, como o livro do Diogo Mainardi, o Lula minha anta.
Não. Porque eu não tenho essa coisa bipolar que o Mainardi tem, ele é um homem de uma nota só, ele só fala mal do Lula. E o meu livro é contraditório, eu não tem uma opinião fechada sobre o Lula, eu não tenho tanta certeza como tem figuras como o Mainardi, eu acho essa uma visão muito simplista. E para mim, o Lula é um cara muito complexo, a gente ainda não pode julgá-lo, até porque a história ainda está acontecendo, né?
Sim.
E eu acredito que esse livro acabe deixando as pessoas mais confusas... elas já são muito confusas com a minha posição política e eu acredito que esse livro vai deixá-las ainda mais confusas.
Mas você está confuso também ou você esta seguro com a sua posição política?
Não! Graças a Deus eu sou confuso! E quem diz que não é, é porque está desconectado da sua época. Eu sou confuso e sou sincero, e eu acho que pra escrever um livro, você tem que ser sincero com suas convicções.
Eu tenho muitas dúvidas sobre as virtudes e os defeitos do Lula. Tem dia que eu acordo e acho que ele foi o melhor presidente do Brasil até hoje e tem dia que eu acho ele um crápula, que se vendeu às alianças com Jader Barbalho e Sarney. E tem dia que eu acordo e acho que as duas posições têm razão.
Começo a desconfiar que ele mesmo acha isso, o presidente. Tem dia que ele acorda e diz: "Meu Deus, que merda eu fui fazer? Eu que fui aquele cara do PT que defendia os trabalhadores e os oprimidos, agora estou aqui com o Collor". Ele deve ter dias de angústia também.
E tem alguma frase ou momento específico do livro que você mais gosta?
Sem dúvida nenhuma o "Metamorfose Ambulante", pra mim esse capítulo é o DNA do Lula. Que aliás tem a ver com isso que estou te falando, ele muda o tempo todo. Uma hora ele fala que a crise é uma marolinha, a outra ele fala que é um tsunami, pra depois falar que é uma marolinha de novo.
E eu descobri uma coisa que é um furo do jornalismo, já que estamos falando ao Terra Magazine, o site do repórter que eu mais admiro nesse país, o Bob Fernandes. Eu dei um furo, eu acredito com esse capítulo "Metamorfose ambulante", descobri incríveis simetrias entre a vida do Lula e do Raul Seixas. Eles nasceram no mesmo ano, eles tentaram se lançar na sua carreira em 68, fracassaram - o Lula tentando entrar no sindicato, o Raul tentando montar uma banda - e em 73 os três entraram para o estrelato - o Lula como dirigente sindical e o Raul lançando uma música chamada "Metamorfose ambulante", em parceria com Paulo Coelho. E a letra diz: "se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou, se hoje eu lhe odeio amanha lhe tenho amor". É quase uma biografia do Lula. "Eu vou lhes dizer agora o oposto do que eu disse antes. Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante". É incrível a poesia dessa música!
Mas você acha mesmo que foi feita para o Lula?
Eu tenho absoluta certeza! É uma convergência incrível. E o Lula é uma metamorfose ambulante e ele disse isso.
Voltando ao lançamento, como o CQC influenciou nesse livro? A visibilidade do CQC também ajudou no lançamento? Os fãs da noite de autografo eram do CQC, do professor Tibúrcio ou do Repórter Varela?
Dos três, acho que mais do professor Tibúrcio, a geração do professor Tibúrcio tem hoje entre 15 e 25 anos. E é a maior parte das pessoas que estavam lá e que falam comigo. E hoje essa geração assiste o CQC. Mas eu percebo que os mais fiéis, os que compram o livro, que falam comigo no twitter... quem é importante mesmo pra eles é o professor Tibúrcio (risos). E eu adoro isso. Eu prefiro ter uma ligação com eles pelo professor Tibúrcio do que pelo Varela ou qualquer outro.
Por que?
Porque eu acredito que uma criança não se engana. É fácil enganar adulto, eu faço isso o tempo todo no CQC. Então quem gosta de mim por causa do Tibúrcio é porque realmente gosta, ela não está mentindo, ela chegou o mais próximo do que talvez seja a minha sinceridade.
Fonte: Terra Magazine
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