Mais em voga para a nova geração por conta do programa semanal Custe o que Custar, o (CQC), Marcelo Tas e sua iconoclastia há tempos que trazem algo de diferente e louvável para a televisão brasileira. Seja como o impagável repórter ficcional Ernesto Varela em meados dos anos 1980, o Professor Tibúrcio, do Castelo Rá-Tim-Bum, no começo dos 1990, ou apresentando o programa Vitrine na TV Cultura, sendo um dos primeiros a abordar a revolução digital que estamos passando, e isso ainda no final do século passado, quando o impacto que ela vem causando em nossas vidas estava apenas engatinhando.
Inventivo, crítico, ácido e sempre com a verve humorística, Tas criou, junto com o hoje cineasta Fernando Meirelles, o repórter Varela, que, em tempos de abertura política e Diretas Já, teve a coragem de fazer as perguntas necessárias a políticos como Paulo Maluf e Nabi Abi Chedid, além de investigar a Serra Pelada, as praias cariocas e Cuba. Inaugurava ali um estilo que mescla jornalismo e humor e vem pipocando nos últimos anos, em programas como o Pânico na TV e o próprio CQC, comandado por Tas e mais uma turma de jornalistas e humoristas de stand up, que procuram traduzir a política de forma direta e irônica, além de mostrar o descaso com a população em quadros como o “Proteste Já”.
Em 2009, Tas se aventurou pela primeira vez em livro, com Nunca antes na história desse país (Panda Books), uma seleção de frase impagáveis do presidente Lula, sempre comentadas pelo jornalista, ilustradas por Ricardo Gimenes. “Achava que televisão dava trabalho, mas um livro...”, comentou nesta entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo. A idéia foi de Marcelo Duarte, editor da Panda, que lhe passou uma pasta com frase compiladas de Lula. “Não quis fazer um livro de piadas e frase absurdas. Daria para fazer um só com as patacoadas do Lula. E fiquei muito angustiado, porque é um assunto que está na mente de todo mundo. Estamos vivendo dois anos – 2009 e este – de muita fervura política, com eleições, e não quis ser leviano ou fazer um livro que tomasse partido, seja simpático ou simplesmente agressivo com o presidente”, conta.
O livro divide o presidente em profissões, como economista, engenheiro, matemático, turista, comediante, filósofo, técnico de futebol e a idéia para estes personagens veio do próprio presidente, que reforça muito o fato de não ter diploma, mas assume autoridade sobre qualquer assunto. “Ele sabe de todos os assuntos, com uma certeza perolar. Nunca tem dúvidas, principalmente quando está errado, ele fala com muita certeza. Aí que enxerguei o livro”, diz.
Segundo ele, o presidente Lula é um ilusionista na linha de Leonel Brizola, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, que não existe mais. “Ilusionista não em um sentido pejorativo. Ele cria ilusões e todo mundo acredita nele. Ele tem esse dom, isso é importante para um líder, fazer com que as pessoas compartilhem dessa visão.” Uma das visões foi a sobre si própria, de ele ser um cara perfeito, puro, que iria promover a igualdade social. “Ele cumpriu parcialmente isso, no sentido que implementou políticas sociais que trouxeram, inegavelmente, avanços. Agora, ele, ao mesmo tempo, repetiu todos os erros anteriores e inclusive aprimorou alguns, como elevar o Sarney à condição de imortal, ao reinado permanente sobre o Brasil, o Senado e o Congresso. E teve avanços e performances surpreendentes. Por isso é essa figura fascinante, contraditória, como todo herói ou vilão.”
Na entrevista, Tas fala da situação política em ano de eleições, do receio em se falar do presidente com ironia – claro, há os que desancam, pixam, tratam com falta de respeito e não aceitam alguém que veio do sertão de Pernambuco e chegou à presidência da Repúbliuca –, de Cuba e da contribuição que o CQC dá, ao tratar com humor temas ásperos e sofríveis como a política brasileira. (Bruno Dorigatti)
Fonte: Saraiva
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