Há três anos, Rafael Cortez teve a vida virada de cabeça para baixo. O jovem paulista recebeu o convite para participar de um programa televisivo que mistura política, entretenimento, humor, Marcelo Tas e parceiros sagazes na arte da improvisação e boom... Explodiu para o Brasil – e para o mundo.
Hoje, estabelecido profissionalmente, caminhando um dia após o outro, o repórter do Custe o Que Custar (CQC), da Band, garante que continua o mesmo e segue com os pés no chão. “Nada é para sempre, e eu tenho minha cabeça no lugar nesse sentido. Tenho a sorte de ser equilibrado e bem-assessorado nessa questão. Toco, interpreto, escrevo. Acho que sempre terei trabalho, mas não serei famoso sempre. Nem acho que sou famoso. Sou conhecido, e é isso”, disse em entrevista exclusiva ao Famosidades.
Como poder do microfone do CQC em mãos, Cortez já teve a oportunidade de entrevistar diversas personalidades de peso, e dividiu momentos que ficaram marcados na história do programa e viraram hit na internet, como o beijo que ganhou do cineasta Pedro Almodóvar.
*“De uns tempos para cá, aprendi uma coisa sensacional que faz a diferença na minha vida profissional: humorista não tem ego. Ao menos não deveria ter. Volta e meia sou eu agora quem pede ao programa que coloque uma cena que acho bem engraçada, ainda que queime bastante o meu filme”, afirmou.
No bate-papo que segue nas próximas páginas, Cortez debateu os limites das brincadeiras que faz no CQC, revelou que é um cara bem caseiro e está com vontade de “sossegar”: “Sou de índole romântica e tenho perfil de paizão, daqueles que cuida da mulher e quer ficar só com ela. Mas tem sempre um diabinho soprando na minha orelha, me pedindo que eu me divirta, que eu curta mais a vida. Aos quase 34 anos, esse capeta tem perdido um pouco da força”.
Cortez falou ainda sobre seu show de humor, o “De Tudo um Pouco”, que está em turnê pelo Brasil, e se mostrou um apaixonado pela música. Aliás, dizem as más línguas que plano para um programa individual na Band com foco musical está cozinhando.
Você é novo no mundo do stand-up. Como foi a produção para montar o “De Tudo um Pouco”? O que o público pode esperar do seu show?
RAFAEL CORTEZ - Eu comecei este show pesquisando o formato do stand-up, mas logo saí dele. Volta e meia chamam meu show de stand-up, uma vez que sigo o formato de me apresentar de cara limpa e estar só no palco, acompanhado apenas do tradicional banquinho e microfone. Mas as coincidências terminam aí. Meu show é um show de humor. No stand-up você não arrisca mudar a sequência do texto e, muitas vezes, calcula milimetricamente a disposição das palavras, de modo a ter o acerto na piada na hora certa. E, em geral, não se improvisa muito e - regra máxima - todo o texto tem que ser 100% seu. Bem, no meu show gosto de improvisar e me dou ao luxo de contar piadas que não são minhas - apesar de 90% de tudo que conto lá ter saído da minha cabeça mesmo. No meu show de humor, que é como o chamo, toco violão, falo de comportamentos e foco mais minha atenção na análise das pessoas. Não me debruço muito sobre coisas do cotidiano, como a maioria dos comediantes de stand-up faz. O público pode esperar música, interação, improviso e muito non-sense.
Seus colegas de programa foram os incentivadores, ou você que percebeu que poderia dar certo este formato de show?
O [Danilo] Gentili foi quem mais me incentivou. Sem ele, esse show não existiria. Idem o Rogério Morgado, que quase se tornou um CQC. Eles são os padrinhos do "De Tudo Um Pouco". Uma coisa legal é que o Danilo e o Rafinha [Bastos] sempre me estimularam a buscar um diferencial. Com o stand-up em alta, eles sempre disseram que o ideal seria que eu buscasse uma alternativa diferente, e esse "algo" seria um link com a música. Demorei quase um ano para conseguir inserir o canto e o violão no show... Mas hoje isso é forte, e acredito que em mais um ano o "De Tudo Um Pouco" será um show de humor 100% musical.
Você cobriu a Copa na África e tem feito muitas viagens internacionais pelo CQC. Qual pauta te deixa mais motivado para gravar?
Ainda sou apaixonado pelas pautas ligadas à música. Estou certo que música é o maior dos meus amores, e o que gostarei de fazer depois que sair do CQC (quando será isso eu não sei, mas espero que demore). Adoro fazer coberturas de shows e festivais musicais.
O formato do programa funciona colocando erros dos repórteres no ar. Pensando nisso, qual gafe você cometeu que nunca foi exibida?
Putz, muitas... Mas se não colocaram no ar é porque queriam me preservar... Logo, vocês nunca saberão [risos]!
Você teme ser ridicularizado por fazer certas brincadeiras em suas matérias? Como você “calcula” um limite para suas intervenções? E isso é feito por você ou por parte da Band?
Eu já tive esse medo. Sei que o CQC e a Band têm um cuidado grande conosco e devo muito da preservação da minha imagem pública a eles. Muitas vezes eles cortaram coisas das minhas matérias que, de fato, tinham mesmo de cair fora. Mas, de uns tempos para cá, aprendi uma coisa sensacional que faz a diferença na minha vida profissional: humorista não tem ego. Bem, ao menos não deveria ter. Volta e meia sou eu agora quem pede ao programa que coloque uma cena que acho bem engraçada, ainda que queime bastante o meu filme. Não tenho mais problemas em aparecer no vídeo feio, idiota, contraditório ou 100% diferente do que sou na vida real, desde que isso fique engraçado. Pelo CQC, levei beijos do Nizan e Almodóvar, raspei meus cabelos ao vivo e entrei em um armário. Isso rendeu - e rende até hoje - muita “zoação” e julgamento por parte das pessoas. Mas nada me abala mais. Fico feliz de ver que as pessoas riem das minhas matérias e que eu, finalmente, não me levo a sério. Se me levasse, como faria um personagem como o Loreno na internet?
Você já se arrependeu de ter tirado sarro com algum entrevistado? Você reconhece quando é “inconveniente” demais?
Sim, me arrependi. Já fui cruel sem necessidade com a cantora Marina Lima, e pedi desculpas publicamente em meu blog... E toda vez que a vejo, reitero as desculpas, apesar dela ter se vingado [risos]! Quanto a ser inconveniente, procuro evitar. Parto do princípio que a pessoa precisa querer participar da entrevista para que ela fique boa. Em geral, todos querem, exceto os políticos... E aí, não penso muito se estou sendo inconveniente ou não. Nessas ocasiões, lembro que somos nós que pagamos seus salários.
Você apronta todas nas gravações de festas, mas não é muito fotografado pelos paparazzi em situações como essa. Você toma cuidado para não expor a sua vida pessoal?
Acho que a coisa é mais simples. Quando estamos trabalhando, nós do CQC, paparazzi, jornalistas, fotógrafos e demais pessoas da área são companheiros de trabalho. Estamos mais envolvidos em ter os personagens das pautas do que entrevistar uns aos outros. Pautas onde os jornalistas são muito focados, em geral, são um mau-sinal. Mostram que tinha pouca coisa interessante por ali ou faltaram convidados. No mais, quando eu não estou trabalhando, raramente vou a festas ou apareço publicamente. Sou caseiro, sou de jantar a dois fora de casa, de beber no mesmo bar de sempre, essas coisas. E não sei se sou um personagem muito interessante para os paparazzi [risos].
Você tem fama de pegador até mesmo no programa. Está mais difícil namorar desse jeito? Ou você quer mesmo curtir e não está à procura?
Sou contraditório nesse sentido. Sou de índole romântica e tenho perfil de paizão, daqueles que cuida da mulher e quer ficar só com ela. Mas tem sempre um diabinho soprando na minha orelha, me pedindo que me divirta, que eu curta mais a vida. Aos quase 34 anos, esse capeta tem perdido um pouco da força. Estou num momento bem legal e com a cabeça no lugar.
Voltando ao início do CQC, como foi aceitar participar de um programa pioneiro no Brasil? Desde o início você acreditava que daria certo, ou foi um risco que sabia que estava correndo?
Foi, e continua sendo, sensacional. Eu fui o primeiro repórter a entrar no CQC, o primeiro dos oito a fazer testes e, desde sempre, fui e continuo sendo um entusiasta do programa. Não tive nenhuma dúvida, nunca, de que iria dar certo. Tive dúvidas se eu me daria bem dentro do programa, mas nunca questionei se o formato se consolidaria.
Agora que é uma pessoa pública, o que mudou pra você? Como é ter dinheiro, fama e saber que tem muito ainda pela frente? Como você administra isso?
Com pé no chão. Ao contrário do que você escreveu, não sei se tenho muito mais tempo de TV pela frente. Nesse meio, as pessoas são facilmente substituíveis. Outras aparecem, mais jovens e cobrando bem menos, e o meio se reinventa. Nada é para sempre, e eu tenho minha cabeça no lugar nesse sentido. Tenho a sorte de ser equilibrado e bem-assessorado nessa questão. Toco, interpreto, escrevo. Acho que sempre terei trabalho, mas não serei famoso sempre. Nem acho que sou famoso. Sou conhecido, e é isso. Famoso é o cara que investe na fama e que a ama. Ele se relaciona com as pessoas certas, sabe fazer os jabás, pensa duas vezes no que diz etc. Sou muito pouco ligado nisso. Quero é trabalhar e fazer muito bem o que me pagam para fazer.
O que você fez com o primeiro salário da Band?
Meus primeiros salários da Band pagaram minhas dívidas. Antes de ser do CQC, eu era ator de teatro infantil e redator freelancer de textos SMS. Você pode imaginar como eu estava de grana.
Qual é seu sonho de consumo atualmente?
Não tenho grandes sonhos de consumo. Não tenho carro, não sei dirigir, ainda pago aluguel, não sou de compras, nada disso. Vivo com simplicidade e ajudo quem eu amo. Acho que meu sonho de consumo é lançar, do meu próprio bolso e sem interferência de ninguém, meu próprio CD instrumental. E tudo indica que isso será realizado em outubro.
Você já desenhou, trabalhou com moda, é músico, jornalista, comediante. Já fez tudo que tinha vontade?
Não morro sem escrever um livro. E o sonho da minha vida é ter uma velhice no qual eu não dependa de nada e de ninguém... E quero eu mesmo lançar meus CDs independentes e meus livros. Tenho grandes ideias em relação à literatura.
0 comentários:
Postar um comentário